Quatro estações
Aprecio
o verão. Gosto do calor, do céu azul, dos corpos à mostra. Gosto
de ver braços, pernas de fora, à vontade. Shorts, camisas abertas.
Bicicletas e pranchas de surf. Gosto de ver os troncos suados,
sorvetes derretendo, óculos escuros, refrescos congelantes. Praia,
piscina, ventilador, janelas abertas. Gosto de ver sorrisos e
garrafinhas de água. Passeios com cachorros e com água de coco.
Chuvas torrenciais e calor escaldante. Sol ardente e chapéu de
palha.
Aprecio
o outono. Gosto do calorzinho resfriado, do azul royal no céu e do
marrom nos pés. Gosto da meia-estação e da meia-calça. Do sapato
fechado e da saia curta. Gosto do vermelho e do vinho. Cores fortes.
Gosto do sol, gigante alaranjado e poluído. Suor escorrendo e brisa
geladinha numa antítese deliciosa. Cachecóis pela manhã e regatas
à tarde. Paletas mexicanas e sopas e caldos verdes num paradoxo
harmônico e salutar. Tempo de pensar e reformular enquanto chovem
folhas decadentes ao redor.
Aprecio
o inverno. Gosto do vento gelado e violento como uma faca cortando o
rosto sereno em êxtase. Gosto do cinza e do brilho do céu
melancólico. Dos casacos elegantes e do desconforto. Do pinhão e do
vinho quente. Dos livros que nos ajudam aquecer a alma. Gosto do bolo
de fubá e do chocolate quente, de Mozart e Vivaldi e sua sinfonia de
inverno. Gosto do tempo cinzento nostálgico e da garoa que lava a
melancolia.
Aprecio
a primavera. Gosto da chuvinha gelada, trovões e relâmpagos e do
girassol. Gosto do canto desesperado do sabiá de madrugada e do
brotar das gerberas, primaveras, frutas e sabores. Gosto do horizonte
multicolorido, radiante e barulhento. Festival de cheiros e pios
acasaladores e plantas escandalosamente frondosas.
Quero
o azul inebriante e o cinza angustiante. Quero as sandálias
rasteiras e as botas elegantes. Quero o sol queimando minhas faces e
a garoa me enchendo de arrepios. Quero o chá gelado e o conhaque
ardendo em minha garganta. Quero o orvalho, o sereno, a noite quente
sufocante, o arco-íris.
Quero
o ano todo dentro de uma caixinha. Quero abrí-la diariamente, tirar
um momento e vivê-lo como se não houvesse amanhã...faça chuva ou
faça sol.
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