Amores perros
Quando a porta bateu e o enfeite,
ganho da tia Hermínia no último aniversário, caiu e espatifou-se, ela teve a
certeza de que esta tinha sido realmente a última vez que ele sairia e não
voltaria. Foi tão intenso e soberbo e violento que ela se assustou e percebeu
que jamais tinha sido assim.
Das
outras vezes, ele saía, fechava delicadamente a porta e até a trancava. Ela sabia
que ele voltaria ... arrependido e precisando. Flores.
Mas,
agora ... vaso despedaçado.
A
porta se fechara e se selara. Os bons tempos esvaiam-se cuidadosamente pela
estrutura de madeira que separava seu aconchego do mundo lá fora. Mundo cruel e
vazio e insensível que o engolia para sempre ... para longe dela ... para nunca
mais.
Outros
haviam aparecido e invadido. Acomodaram-se em sua casa, seu coração, sua cama. Mas,
ao partirem, pediam permissão, pois o amor já não mais cabia em suas parvas
vidas. Os amantes tornavam-se casmurros e o amor esmaecia.
Imagine a paixão ...
que é doença. Tudo desaparecia e eles partiam em paz. E ela ficava taciturna e
feliz ... em paz.
Mas
ele ... ele era diferente. Ele era para sempre. Amor eterno. Paixão equilibrada.
Corpos ardentes, sexo tântrico, gozo nababesco, gritos ensurdecedores. Dependência
moral ... doença.
Só
ela não percebia. Ela não podia amar. Ela só podia ... ser.
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