What if?


E se o mundo fosse realmente acabar agora? É claro que é uma ideia estapafúrdia mas, incrivelmente, existem umas cabeças semi-pensantes que realmente acreditam nessa fantasia excêntrica. No meio de uma aula dias desses, uns alunos meus quiseram discutir o que faríamos se tal fato estivesse a se concretizar de verdade. Parece-me algo imperativo a se pensar. O que fazer quando se sabe que vai morrer? Disseram muito. 
Ligariam para todos os familiares e amigos e desafetos, por que não?, e diriam o quanto os amavam e continuariam pensando neles “do outro lado”. Correriam nus pelas estradas gritando. Ligariam para ex-namorados ou namoradas para recompor mal entendidos. Comeriam tudo o que aparecesse pela frente ... nunca mais se preocupariam com dietas fora de propósito – esse seria um lado positivo do fim. Matariam alguém, só para sentir o gosto de ter a vida de outrem em suas próprias mãos. Já sonhei que matei alguém e não foi bom. Outros fariam melhor: transariam até se acabarem !!!! Outro diria que teria poucos dias para ler Thomas Mann. Um outro disse que entraria no mar e sairia nadando para nunca mais .... Outra, estouraria os miolos antes da catástrofe aniquiladora.
Perguntaram, finalmente, para mim o que eu faria. Estava rindo até então com tanta falta de bom senso e excesso de ridicularização com a própria vida prestes a se extinguir. 
Percebi abismada que não tinha resposta. 
Não ligaria para ninguém. Não prometeria encontros “do outro lado” pois não acredito que este outro lado exista. Não correria nua nem iria para a praia. Não iria querer saber dos meus ex-namorados ou amantes ou qualquer coisa que o valha. Não mataria, não sorriria e não sei se seria boa companhia para uma noite de amor. Não seria glutona nem anoréxica. Não abriria um livro ou escutaria músicas ou assistiria ao desespero da minha espécie em próxima extinção na televisão.
Não faria nada. Ficaria o tempo todo comigo mesma solitária e serena. Isolada. Tentaria adivinhar se havia valido a pena cada segundo neste pálido ponto azul prestes a virar uma bola em flamas.
Não acho que alguém me compreenderia, mas preferiria morrer sozinha. E essa ideia me confortou.

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