O Vil Gentil
Um fio de luz iluminou o caminho quase fechado já de tanta
desesperança para quem um dia sonhou conquistar o mundo, mas conquistou somente
o sabor do fracasso.
Dói um coração arrependido.
Gentil, muito astuto e malandro, queria tudo de tudo e de
todos. Nunca se contentava com o pouco que lhe provinha. Traição e enganação
eram verbetes recorrentes de seu parco vocabulário. Todos que cruzavam seu
caminho, saíam magoados ou lesados .... financeiramente.
Gentil era o rei estapafúrdio da embromação. Ao encanto de
sua falácia fantasiosa, conseguia que o pobre trabalhador lhe entregasse a
féria, toda ela, em troca de falsos investimentos com nomes requintados, aquém
da ignorância dos mais fracos, que nem os economistas se continham e
gargalhavam ao ouvir o nome de tamanha insensatez criminosa – “Fundo de
Investimento de Averbação Monetária Cíclica” –, com projeções bombásticas de
juros a recolher. Mas, o pobre trabalhador acreditara em Gentil e sua poderosa
lábia maldita.
Gentil enganava o sexo frágil também. Rios de lágrimas
correram de donzelas descartadas e desfalcadas.
Mas, foi ao acreditar na tal fragilidade que arruinou todo
seu império subversivo. Tentou enamorar uma Flor, cuja flor acreditava-se
intacta. Flor era rica – daria bons frutos. Apreciar uma flor com seu toque e
galanteio a faz abrir-se, desabrochar e liberar todo seu néctar para o mais vil
gentil. Mas Flor não tinha um néctar doce como o mel. Era mais venenoso do que
cicuta. Ao provar-lhe o sabor da flor de Flor, foi completamente envenenado por
completa dependência passional da delicada moça que agora o rejeita e o
despreza.
Agora, Gentil, ao sabor da doentia paixão, deixa a gentileza
de lado. Não consegue encarar nem mesmo os pobres trabalhadores por ele
estupidamente ludibriados dias passados quaisquer. Pudor. Humilhação.
Dói o coração arrependido de Gentil.
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